sábado, 6 de março de 2010

Nem chegaste e já vai-se embora.

Pudera eu arrancá-la de dentro de ti a unha.
Para que você a sangrasse até esgotar.

Teu medo cego te mantém num escuro denso
Eis que se esquece daquilo que te torna intenso

Porque se anular nesta detestável monocromia?
O desejo de me pintar em você é destituído pelo desprezo que tu vestes como fantasia.

O presente, meu caro, é feito de entregas,
Um dia a vida se cansa e te leva

sexta-feira, 5 de março de 2010

Mensagens flutuantes

Nunca nos encontramos.
Mas me leio a cada dia com mais clareza,
À luz do sol ou da lua...
Cada um da sua forma,
E eu a mesma fôrma.
Àquela que te vê como metade amputada.
Metade de meus olhos, ouvidos e razão.
Um carinho que chega a ser fraterno,
Admiração que nasceu narcisista.
Você.
Que me revela em reflexo.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Cansada das futilidades diárias

Hoje vou sair de casa de chinelo e de pijama,
Só não sei se acabo o dia internada, ou em alguma cama!

Meus olhares e sentidos num lugar mais que agradável (Barra do Monjolo - Fronteira/MG)

Faltavam poucos centímetros para a noite.
Enquanto a lua permanecia longe, o cinza tomava conta do local.
Um cinza, que não era o tristonho, o doído. Era aquele cinza nostálgico, aconchegante.
A clareza dos seus olhos refletiria com presteza.
Você respiraria cada cheiro como se sentisse a textura.
E o vento que vinha de leve desenhando em meu corpo, me dava mais do que boas vindas e sim um “Fique à vontade”.
Os corpos respondem por osmose, e você realmente percebe que é parte deste cenário.
A música e o rangido dos bambus se misturam com o tom alaranjado das luzes que se destacam na quase penumbra, que a noite ainda nem caída, já começa a despertar.
Os vinis nas paredes, que se mostravam em alto relevo quando chegamos, são agora sombras pela cabana...
A tarde foi-se embora, deixando cá um forte azul. A temperatura deslizava, e o ar cada vez mais úmido nos acariciava.
Cheiro denso do rio, o aroma das árvores.
Tudo fica enamorado.
Os olhares tomam outros rumos, perdem o prumo.
Um poema de voz ébria invade com rouquidão e atrai a atenção.
Seja bem vinda noite, você é infinda e acaba de chegar!
As flores do tecido de chita eram as estrelas do nosso céu.
Céu de ondas de lona, madeiras como se fossem velas de barcos.
O charme do que é antigo, revela para os olhos um mundo novo.
A descrição é gratidão!
Nada melhor do que percorrer a trilha do nada, pois ela me trouxe até aqui.
O resto agora tanto faz, a paz chegou e enfim se faz.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Ariano

Um quê de estranho,
um que que eu amo.
O homem que vive dentro de si
E se torna outro quando sente a brisa úmida da superfície.
Entidade desconexa
Órbita exotérica
Áries com o charme de escorpião.
- Roubou o medo de libra!
- É fogo!
- É fogo!

Nublado

Fim da estrada.
Cinzas.
O barulho dos carros que se aproximam e distanciam,
na dissonante dança entre os acordes menores.
Fim do dia.

Encontro

Eis que se encontram fisicamente,
E é assim que se encontram verdadeiramente.
Se olham nos olhos como se vissem o próprio reflexo.
Ele tem medo do que vê,
Ela quer enfrentá-lo.
Ele prevê sofrimento,
Ela prefere o martírio suposto.
Silêncio, emudecem.
Ele a olha,
Ela disfarça.
Ele a quer,
Ela acolhe.
Ele penetra,
Ela distorce.
Ele suspira,
Ela suspira.
Ele vai-se embora,
Ela ainda está com ele.